GamboaNova, Vila Velha e Casa Preta.
“Dissidente”, da Cia. Teatro da Casa,
volta a cartaz em três espaços diferentes nos meses de maio e junho.
O espetáculo Dissidente estreou ano
passado. Teve seis indicações ao Prêmio Braskem de Teatro e levou duas premiações:
a de "Melhor Diretor" para Gordo Neto e a de "Melhor Atriz"
para Vivianne Laert. Embalado pela boa aceitação, a peça faz uma temporada em
maio e junho em três espaços: o Teatro GamboaNova, o Vila Velha e a Casa Preta
- onde o espetáculo foi concebido. Nos teatros GamboaNova e Vila Velha, a
oportunidade é de receber um público maior, já que na Casa Preta a platéia não
passa de 25 pessoas.
Sobre a peça
“Dissident, il va sans dire”,
traduzido “Dissidente” pela professora doutora Catarina Sant’Ana,
com direção de Gordo Neto, leva à cena, pela primeira vez juntos, a atriz
veterana Vivianne Laert e o jovem ator Tato Sanches - que são mãe e filho, tais
quais os personagens Helena e Felipe, da peça.
Felipe, um jovem de 17 anos, mora com
sua mãe Helena e parece não estar muito motivado a encontrar trabalho. Já
Helena, separada do marido - um ex-socialista que conheceu durante a luta
política - trabalha numa empresa fazendo estatísticas de mercado. A falta de
interesse do filho pelo trabalho, pela vida “normal”, suas relações de amizade
com um grupo de jovens suspeitos e sua visível degradação física apontam para
um fim inevitável: a separação de mãe e filho por causa do seu envolvimento com
drogas e crimes.
Em Dissidente, "os diálogos sem pontuação, salvo os sinais de interrogação, a ausência de
rubricas evidentes, as falas desencontradas ou sem respostas, a mistura súbita
de referentes e de tonalidades emocionais as mais diversas no interior de uma
mesma fala de personagem, um laconismo geral denso de informação e de
suspenses, os quais, por sua vez, não se desfazem, nem nos pressionam tampouco,
mas literalmente esfumam-se no ar, para ressurgir bem mais adiante,
discretamente, perdidos no meio a outros dados; tudo isso liberado em “doze
pedaços” [...], não cenas, mas pedaços de real, sem nenhuma apresentação, nem
mesmo pelos próprios personagens. É como se invadíssemos a vida de dois seres reunidos em momentos diversos
e esparsos, e fôssemos obrigados a adivinhar do que se tratam no momento, a
criar nós mesmos os elos, a costurar, enfim, os pedaços." [1]
O texto de “Dissidente” encanta pela
sua comovente história e pela sua forma dramatúrgica rebuscada e poética, traço
do autor, colocando na voz dos dois personagens frases tão bem construídas,
escritas com um preciosismo ímpar, capazes de revelar, em situações
aparentemente simples e cotidianas, a relação profunda entre mãe e filho. Da
mesma forma vai, além disso, para, com a mesma aparente simplicidade, sobrepor
histórias umas às outras, retomar assuntos que pareciam estar esquecidos, num
imbricamento dramatúrgico que só um autor de sua estatura pode
proporcionar. Sem rubricas e sem pontuação, o texto de Vinaver é um
exercício de criação tão difícil quanto prazeroso, pois se deixa revelar
justamente na cena, na fala que parece desconexa se apenas lida, mas que ganha
sentido, intensidade, beleza e clareza próprias da interlocução cotidiana entre
dois humanos que vivem juntos.
Sobre o autor
"Escrevendo a contracorrente, antecipando-se a tendências, [...] não reconhecendo seu processo de criação em nenhum movimento
contemporâneo – como brechtismo, teatro do quotidiano, o teatro documento, o
teatro histórico, ou o texto como material-de-cena, etc. – Michel Vinaver
(1927-) soube construir uma obra teatral"[2] que faz dele um expoente no teatro
contemporâneo.
"Roland Barthes preconizara a importância de Vinaver para o teatro
contemporâneo, desde que leu os manuscritos da primeira peça do autor.[...} Bernard Dort, igualmente, concordava que Vinaver poderia dar conta
da vida quotidiana, fora de ideologias." [3]
"Foi assim que, mesmo tratando em seus textos, entre outras coisas,
das guerras da Coréia, da Argélia, da Indochina, da tomada do poder por De
Gaulle [...], da absorção das pequenas empresas nacionais por multinacionais
[...], das competições vorazes no mundo do trabalho e do desemprego [...}, de faits divers como a queda de um avião nos Andes que acaba em canibalismo ou o de uma
mulher que mata seu amante [...] e até de acontecimentos na ordem do dia, como
11 de Setembro, Vinaver consegue uma escrita poética calcada num inteligente
processo de composição que reelabora o real pela linguagem ou “à flor da
linguagem” (“au ras du langage”, termo seu)."[4]
“A banalidade do
quotidiano nunca cessou de me interessar.
A matéria da vida
diária em seu estado o mais indiferenciado,
o mais confuso, o mais
indistinto, o mais neutro.
Partir do zero” – Vinaver, Ecrits
sur le Théâtre, p.307.
Sobre a Cia. Teatro da Casa
A atriz Vivianne Laert e os atores
Tato Sanches e Rui Manthur (assistente de direção de Dissidente), provocados
pelo diretor Gordo Neto, criaram durante o processo de montagem de Dissidente,
a Cia. Teatro da Casa . É uma companhia de atores, portanto, focada justamente
no trabalho do ator, na interpretação. À exceção de Tato Sanches, jovem
ator que teve em Dissidente seu primeiro trabalho profissional, Manthur,
Vivianne Laert e Gordo Neto são velhos conhecidos, desde os anos 90. Dividiram
o palco, atuando, os três ou ao menos dois deles, em espetáculos como Barba
Azul Um tal de Dom Quixote, Sonho de uma Noite de Verão, O Despertar da
Primavera e Material Fatzer.
O nome da Cia, "da Casa",
veio tanto por conta desta proximidade entre eles - para além de Tato Sanches
ser filho de Vivianne - como também pelo local que abrigou este projeto, a sede
do grupo parceiro, o Vilavox, que fica na Casa Preta Espaço de Cultura. É todo
mundo "de Casa", é todo mundo "da Casa".
Dissidente, que foi concebido e
apresentado numa pequena sala deste sobrado, a Casa Preta, no Dois de Julho,
agora parte para o desafio de ser apresentada em teatros, o GamboaNova e o Vila
Velha, além da própria Casa Preta - sua casa.
Ficha Técnica
Texto
Michel Vinaver
Tradução
Catarina
Sant´Anna
Direção
Gordo Neto
Assistente
Rui Manthur
Elenco
Vivianne Laert
Tato Sanches
Música
Ricardo Caian
Coreografia
Lauana Vilaronga
Cenário
Rodrigo Frota
Figurino
Luiz Santana
Produtor de Objetos
Dan Rodrigues
Iluminação
Fred Alvin
Assistente de Produção
Newton Olivieri
Espetáculo dedicado a
Daniel Farias
Produção
Cia. Teatro da Casa
Arraial Promoções
Realização
Cia. Teatro da Casa e Grupo Vilavox
Contatos
Gordo Neto - 8779 6093
Vivianne Laert - 8842 0592
Serviço
GamboaNova:
Dias 01,02 e 03/05 (qua, qui e sex),
às 20h.
R$ 20,00(inteira)
Teatro Vila Velha
Dias 04, 05 (sab e dom, 20h), 09,
10,11 e 12 (qui a sab, 20h e dom, 19h)
R$ 15,00 (qui, promoção) e R$30,00
(sex a dom, inteira)
Casa Preta
De 24/05 a 16/06 (sex a dom, 20h)
R$ 30,00 (inteira)
Currículos
GORDO NETO
41 anos, transita desde 1990 por
vários caminhos do fazer teatral: atua, dirige, escreve e produz
alternadamente. É integrante-fundador do grupo Vilavox e
trabalhou durante dez anos no Teatro Vila Velha. Atuou em mais de vinte
espetáculos e dirigiu outros sete. Tem peças montadas e inéditas. É
sócio da produtora Arraial Promoções. Foi premiado (Prêmio Braskem de Teatro)
como “Melhor Diretor” por “Dissidente”.
VIVIANNE LAERT
Iniciou sua formação na Oficina
Independente de Teatro (1985/1986), sob a orientação de Fernando Guerreiro.
Participou do Projeto para Formação de Atores da Fundação Gregório de Mattos,
orientação de Márcio Meirelles (1986/87). Fez o III Curso Livre de Teatro da
UFBA, direção de Luiz Marfuz (1987/1988); a Oficina de Arte Performance,
orientação Beto Martins, Roberto Cohen, Lali Krotosindki(1987); a Oficina de
Interpretação para o ator, orientação Rubens Correa(1988); a Oficina de
dramaturgia do ator, orientação Luis Otavio Burnier e Carlos Simione – LUME/SP
(1988); “Theather fur Ausländer” (Teatro para estrangeiros) na Volkshochshule –
Berlim/Alemanha (1990); o curso História da dança, orientação Maria da Glória
Reis (1991); estudou teatro coreográfico com Carmen Paternostro (1992)
realizando também cursos de canto com Graça Reis e Neto Costa e perna-de-pau
com Gordo Neto (1998).
Participou de diversas montagens : A
Formiguinha Fofoqueira direção Zezão Pereira (1983), Os Físicos direção de
Nilson Mendes (1984), Nadsat de Fernando Guerreiro (1985), Gregório de
Mattos de Guerras de Márcio Meirelles (1987), SIM – O Universo de Arrabal,
direção Luiz Marfuz e Morangos Mofados de Fernando Guerreiro e Paulo Atto
(1988), O Beijo no Asfalto de Fernando Guerreiro (1992), Merlin ou a Terra
Deserta de Carmen Paternostro (1993/1994), Barba Azul e Um Tal de Dom Quixote
de Márcio Meirelles (1997/1998), Bodas de Sangue de Nelson Vilaronga (1999), Pé
de Guerra de Márcio Meirelles (1999/2000), As Virgens Noivas da Violência de
Andrea Elia (2001) , os espetáculos infantis H²O – Uma Fórmula de Amor, direção
de Zeca Abreu e A Princesa e o Unicórnio, direção George
Mascarenhas (2003), As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant, direção Elisa
Mendes (2003/2004), Auto-Retrato aos 40, direção Marcio Meireles (2 004), 1º de
Abril, direção Gordo Neto (2004/2005). Participou, no ano de 2005, do Projeto “
3 e Pronto” da Companhia Teatro dos Novos, com os seguintes espetáculos: Cartas
Abertas, direção Marcio Meireles; Diatribe de Amor contra um Homem Sentado
(indicada melhor atriz coadjuvante – Prêmio Brasken de Teatro), direção Iara
Colina; Momento Argentino, direção Gordo Neto e Divorciadas, Evangélicas e
Vegetarianas, direção Espírito Santo. Em 2007 participou do espetáculo A
Geladeira, direção Thomas Quilladert; Álbum de Família, direção Paulo Henrique
Alcântara (2008/2009). Em 2010 esteve em temporada com o espetáculo
Divorciadas, Evangélicas e Vegetarianas de 12/03 a 12/09/10 no Teatro Jorge
Amado. Atualmente está em cartaz com o espetáculo infantil H²O – Uma Fórmula de
Amor também no Teatro Jorge Amado.
Foi premiada (Premio Braskem de
Teatro) como “Melhor Atriz” por “Dissidente”.
Em televisão, participou do Programa
Especial de lançamento da TV EDUCATIVA/BA, ´´AMADO JORGE´´, sob a direção de
Álvaro Guimarães, tendo interpretado a personagem Lívia, de Mar Morto
(1985). Participou também da minissérie “O PAGADOR DE PROMESSA``, na TV
GLOBO (1986), direção de Tisuka Yamazaki.
VITOR SANCHES
Iniciou sua formação no TODO MUNDO FAZ
TEATRO - Juvenil em 2006. No primeiro semestre/2007 fez o curso básico e a
partir agosto/2007 até a presente data faz o curso avançado, todos com direção
de Filinto Coelho e Renan Ribeiro.
Participou das seguintes
montagens:
O céu do Brasil (2006); As mil e uma
noites (2006); O mambembe (2007); Entre o céu e a terra (2007); Decamerão
(2008); Pra que serve o amor? (2008); Sangue de mentiras (2009); Hair (2009);
Os reis do Brasil (2010); O grande escândalo do proibido (2010); Bonequinha de
lixo (2011).
RICARDO CAIAN
Em 2007 e 2008 participou como
guitarrista da peça "Primeiro de Abril" do grupo Vilavox do teatro
Vila Velha, executando a sonoplastia e trilha da mesma sob a direção de Jarbas
Bittencourt. Em 2008 escreveu uma trilha para a leitura do texto
"Dissidentes" de Michel Vinaver, que ocorreu no Vila Velha sob a direção
de Gordo Neto e atuação de Viviane Laerte e Daniel Farias. Em 2009
participou como baixista de duas temporadas da peça "Imagina Só", do
grupo Novos Novos do teatro Vila Velha, executando a trilha da mesma sob a
direção de Ray Gouveia. Entre novembro de 2009 e janeiro de 2010 participou da
gravação do disco "Arraial - Alvoradas e outras canções" como
instrumentista e arranjador junto à Jarbas Bittencourt, produtor e diretor
musical do disco. Em 2009 ficou entre os 50 finalistas do festival de música da
Educadora com uma composição sua chamada "Até Cuba", que tocou
diariamente por duas semanas na própria rádio. En tre os anos de 2009 e 2010
foi professor em uma escola de música no Rio Vermelho dirigida por Maria
Angélica Vilas Boas. Desde janeiro de 2007 trabalha como monitor e programador
em períodos de férias no Acampamento Arraial Uniser, onde realiza diversas
atividades recreativas com crianças, incluindo oficinas de músicas. Entre os
anos de 2010 e 2011 trabalhou no projeto “Consultório de Rua” do CETAD-UFBA,
onde atuava como redutor de danos realizando atividades musicais com jovens
usuários de drogas em situação de rua. Em 2009 acompanhou como guitarrista a
cantora Nabiyah Bashir numa temporada de shows no Teatro Sesi Rio Vermelho e em
2010 no Pelourinho. Em 2009 também fez uma temporada de quatro meses com seu
grupo de música instrumental "Quarteto Vida Dura" no Espaço Cultural
Casa da Mãe (Rio Vermelho). Entre novembro de 2010 e julho de 2011 fez parte da
banda Rio Vermelho como guitarrista, realizando diversos shows na cidade de
Salvador, incluindo o carnava l, onde fez dois dias em trio elétrico no
circuito Barra-Ondina. No mesmo carnaval de 2011 foi guitarrista da banda de
Eliana que tocou no bloco infantil, Happy. Criou e é vocalista e produtor da
banda Ricardo Caian e os Beduínos Gigantes.